Um corban é um sacrifício. Mas o que é sacrifício? Nas religiões pagãs: a destruição da vida na adoração de ídolos. No judaísmo: a elevação do mineral, vegetal e animal ao espiritual.

Infelizmente, palavras como "oferenda," "sangue" e especialmente sacrifício têm sido conspurcadas com conotações decididamente não-judaicas, portanto caberia a nós uma completa reexaminação do conceito original da Torá. O radical da palavra corban é o adjetivo "karov," o hebraico para "fechar," denotando sua função primária: aproximar de D’us o ofertante do corban. Ao contemplar uma criatura viva abatida, morta e queimada perante seus próprios olhos, a pessoa se voltaria à introspecção e humildade, sobre as quais se baseia o verdadeiro arrependimento. Os corbanot somente eram trazidos na época do Templo. Havia diversos tipos: alguns expiavam pecados (involuntários), alguns transmitiam agradecimentos a D’us, outros eram obrigatórios, e alguns opcionais.

Atualmente, a prece substitui os corbanot, como declara o Profeta Hoshea: "Sacrificaremos novilhos de nossos lábios" (Hosea 14:3). Em nosso tempo, não sacrificamos trigo ou ovelhas, mas sacrificamos nossos ímpetos terrenos, animalescos. Contrário ao equívoco popular, a instituição do sacrifício não era uma substituição do arrependimento no judaísmo. O princípio mais fundamental do sacrifício no Templo era a contrição por parte daquele que trazia a oferenda (era exigida a confissão oral), a tal ponto que, se a pessoa não passasse por uma profunda mudança no coração, o sacrifício de nada valia. Não importa o que a pessoa ofertasse, o corban não era tanto para D’us quanto para a pessoa – assim como a prece e a caridade são mais para o ofertante que para o recebedor.

Como se trazia o corban?

1 – Havia aproximadamente três dúzias de tipos de sacrifícios – a Torá especifica exatamente que tipo era ofertado para qual necessidade. Um corban poderia ser uma ovelha, cabra, boi, vaca, carneiro, rola ou pombo (note que somente animais casher eram trazidos); farinha de trigo refinada assada ou frita em várias formas; ou vinho bom. Além da oferenda de Tamid, que era uma ovelha trazida duas vezes ao dia, os sacrifícios eram trazidos no Shabat, na Lua Nova e em todos os dias festivos mencionados na Torá.

Os sacrifícios podiam apenas ser oferecidos no Templo, independentemente de quão distante a pessoa morasse. Animais sacrificados deveriam ter um mínimo de oito dias de idade e não possuir defeitos; exigia-se que qualquer animal com falhas fosse trocado por um espécime saudável (o animal substituído retornava a seu dono). Todos os corbanot requeriam salgamento, nunca eram trazidos à noite, e jamais eram oferecidos após o Tamid noturno, exceto o Cordeiro Pascal. Evidentemente, não havia crueldade com os animais: todos eram abatidos humanamente antes de serem ofertados; os corbanot estavam mais livres de sofrimento que no atual abate rotineiro de aves e bovinos para o jantar.

2 – Diga "Muito obrigado!"
Na categoria de agradecimento enquadrava-se uma importante coleção de oferendas. Primeiramente, o Corban Todá (o Sacrifício de Graças): este presente a D’us demonstrava a gratidão da pessoa por ter sobrevivido a uma doença grave, por ter retornado em segurança de uma viagem marítima ou da travessia do deserto, ou por ter sido libertado da prisão. Em segundo, os kodoshim kalim, ou sacrifícios menores, eram trazidos ao Templo para prestar tributo a D’us por importantes vitórias pessoais e prosperidade. Estes incluíam: oferendas de paz públicas e particulares, oferendas pelo primogênito, o dízimo do rebanho e o Cordeiro Pascal. É importante assinalar que as oferendas de paz nada tinham a ver com pecados; eram trazidas meramente para transmitir agradecimentos a D’us.

3 – Diga: "Sinto Muito!"
A maioria dos sacrifícios para a expiação de pecados individuais e sociais. Estes eram descritos como kodshei kodoshim, ou sacrifícios maiores, e incluíam: a Oferenda Queimada, feita duas vezes ao dia, simbolizando a completa submissão a D’us; a Oferenda do Pecado, trazida apenas pela violação involuntária de 43 mitsvot diferentes; a Oferenda da Dúvida, trazida quando em dúvida sobre se uma violação fora cometida; a Oferenda de Culpa, trazida pelos crimes de furto, conexão indevida com uma serva, ou mentir sob juramento. O serviço de Yom Kipur no Templo incluía diversos sacrifícios que expiavam pecados esquecidos do público em geral, ao passo que a segunda Oferenda de Pêssach expiava por alguém que não pudera trazer o Cordeiro Pascal em Pêssach, por motivo de viagem ou outros impedimentos. O Grande Sanhedrin, a Corte Rabínica mais elevada dos tempos antigos, era obrigado a trazer uma Oferenda de Pecado se uma ordem incorreta fora expedida.

4 – A tempo para os Dias Festivos
Exigia-se que os dias especiais ordenados pela Torá fossem assinalados com sacrifícios celebrando a ocasião. Uma Oferenda Queimada adicional era oferecida em: Rosh Hashaná, Yom Kipur, Rosh Chôdesh (Lua Nova), Shabat, Pêssach (uma a cada dia), Shavuot e Sucot (uma a cada dia). Uma Oferenda Queimada devia ser trazida por todo peregrino quando de sua visita tri-anual ao Templo, e uma única oferenda de dois pães era trazida por todo judeu por ocasião de Shavuot.

5 – Assinalar um acontecimento
Diversas combinações de corbanot eram trazidas por vários indivíduos por mudanças de status espiritual. Tanto homens como traziam uma Oferenda Queimada e uma Oferenda de Pecado para restaurar seu nível espiritual; assim, como também no caso de uma mulher imediatamente após ter dado à luz.